1. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado, a hora é desconhecida. O Sol estava em Gêmeos, conjunto a Betelgeuse, alpha da constelação do Gigante Órion, estrela que destina grandes feitos. Já a Lua, em Libra, em trígono perfeito com o Sol-Gigante. Quando os Luminares se olham, sempre é uma saúde.
2. A travessia do nosso imortal, isto é, para onde a sua vida se destina, vai da Lua a 27 de Libra à Lua a 3 de Sagitário. E assim a Lua encontra Saturno, o planeta da melancolia. Para fazer essa travessia, e responder para onde uma natividade se endereça, basta andar três dias com a senhora das horas, quem a Lua encontrar, eis o destino.
3. A Lua de Machado encontra Saturno, planeta dos poetas e melancólicos. São estes que sentem o peso plúmbeo da existência e trabalham para a posteridade. E, aqui, há uma pista de qual é o signo que se levanta quando Joaquim Maria vem ao mundo.
4. Pela vida toda, Machado precisou lidar com a saúde precária, sofria de epilepsia, doença crônica. Para isso, Saturno regeria a casa 6, a das doenças. O casamento com Carolina Xavier de Novais também é relevante em sua biografia e, desse modo, Saturno precisaria reger a 7, a do casamento. Nesse cenário, quando Saturno rege a 7, é comum a união se dar com uma pessoa de mais idade. Carolina era quatro anos mais velha que Joaquim. Aliás, um arranjo incomum à época. Com Saturno, então, regendo a casa 6 e 7, a das doenças e do casamento, respectivamente, o Ascendente seria Leão, obrigatoriamente. Por hipótese, a 11 graus.
5. O regente do Ascendente é o nativo. Sol, regente do Leão, em Gêmeos, na casa 11, a dos bons espíritos. Já a Lua habita a Libra, isto é, a casa do seu júbilo, a 3, posição do escritor e de quem sabe das coisas. Júpiter, também em Libra, encontra-se na Casa da Deusa. Vênus, planeta das artes, e regente da Lua e de Júpiter, levanta-se junto ao Leão, conectando Machado às artes, à graça, à língua da Deusa da Casa 3 e à Casa dos feitos, a 10, por conta do Touro. Marte, o pior maléfico da carta, em Virgem, na Casa 2: vida financeira em permanente crise aguda. O alento vem do mais oriental, Mercúrio, regente de Marte, domiciliado e combusto, mas na carruagem, por fazer dinheiro a partir de suas artes: tipografia, jornalismo, comércio, oráculos ou escrita. Saturno está na 5, a dos filhos, restringindo-os.
6. Planeta na carruagem é quando está combusto mas em uma de suas dignidades maiores, domicílio e exaltação, ou em duas menores, termo e triplicidade.
7. Vejamos alguns eventos na vida do escritor: aos 10 anos, em 1849, fica órfão de mãe. O Meio-Céu, ponto que se refere à mãe, caminhou e se opôs a Saturno. A Lua caminhou, chegou na 8 e quadrou Saturno. E o Sol, o próprio Machado, progrediu à quadratura a Júpiter, regente da 8, a da morte. Perda fundante.
8. Em 2 de dezembro de 1869, Machado casa com Carolina. A Lua, a contrarregra do destino, chegara a Saturno, regente da Casa 7, a do casamento, e a razão de sua existência. Casamento basilar. Uma curiosidade: Machado só foi comunicar à esposa que sofria de epilepsia, depois de casar.
9. Memórias Póstumas de Brás Cubas, o seu livro divisor de águas, foi escrito em folhetim de março a dezembro de 1880, Machado estava com 41 anos. O Ascendente trazia à vida Saturno, a razão da sua existência. “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas (ASSIS, 1959, Ed. Nova Aguilar, p. 511, Dedicatória)”. A melancolia é hiper-irônica. O Sol aspectava Júpiter, regente da Fortuna e da 8, a dos legados, inventários e herança. Pedra fundante.
10. Em 1888, é condecorado oficial da Ordem da Rosa, significando grande prestígio. O Meio-Céu encontrara Júpiter, por quadratura, e o Ascendente progredido se aplicava a Júpiter também. Júpiter confere prestígio a quem condecora e a quem é condecorado.
11. Machado de Assis é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, sendo o seu primeiro presidente. A Academia nasce no dia 20 de julho de 1897, no Rio de Janeiro. No mapa progredido de Machado, o Ascendente fazia aspecto com o Sol natal, coroando-o.
12. Sete anos depois da fundação da ABL, no dia 20 de outubro de 1904, Carolina vem a falecer. É quando, no mapa de Machado, o Sol começava seu aspecto aplicativo a Saturno e Marte progredido e Ascendente progredido a Marte progredido, isto é, o arco narrativo com os maléficos começara. A Lua transitava a casa 8, a da morte.
13. A perda de Carolina lançou Machado ao abismo, que veio a falecer 4 anos depois. Em seu atestado de óbito, deveria estar escrito: “morreu para alcançar a Carolina”.
14. Quando da própria morte, em 29 de setembro de 1908, às 15h, segundo o atestado de óbito, o Sol progredido, isto é, o próprio Machado porque regente do Ascendente, chegara à quadratura perfeita a Saturno radical, a razão fatal da sua vida, de sua travessia. O Ascendente progredido se separava de Marte e a Lua o aspectava.
15. Em 1999, quando o regente da 1, o Sol, isto é, o Machado, chegara a Saturno, regente da 7, isto é, a Carolina, os restos mortais de ambos foram transferidos ao mausoléu da ABL, no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, sua cidade natal.
16. O Céu, retrato do tempo, não finda nunca.
Este texto compõe a edição do jornal lambe SELINA 1 - O MAPA ASTRAL DE MACHADO DE ASSIS. Confira os demais textos dessa edição aqui.
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