Core - a virgem, saltitava nas pradarias como fazia pelas manhãs, das 06:33 até 07:17 h, quando distraiu-se com a beleza de um narciso e quis colhê-lo. Neste momento uma fenda abissal rasgou a terra e ela quedou-se no submundo de Hades, seu raptor, onde tornou-se rainha e foi rebatizada Perséfone. Eis um trecho que gostaria de destacar sobre o mito de Virgem, signo célebre por ser detalhista e inequívoco.
Lembro agora de “Distraídos venceremos”, título de perfeita obra do virginiano poeta Paulo Leminski. Mas como, exatamente um virginiano, é capaz de tamanho desapego ao assumir que a distração leva ao triunfo?
Estamos diante de um sábio evoluído.
Com o tempo exaurido pelo constante controle da ordem pré-agendada, não há brechas para a ação do Acaso na vida virginiana. Dizem os piscianos, seus opostos, que o Acaso é infinitamente mais generoso do que um futuro pré-concebido pode ser. “Deixa fluir”, cantam os peixes. Mas virginianos não apreciam imprevisibilidade. Renegam as surpresas que os fazem perder a gerência da vida. No entanto, seus maiores saltos evolutivos podem ocorrer por obra do Acaso, um oportunista que desfruta dos raros lapsos virginianos diante da beleza caótica da existência. O Acaso tem caso com o controle. Ele toma o virginiano para si a fim de que receba suas dádivas a qualquer custo, tal como Core foi raptada para tornar-se Perséfone, majestade do desconhecido.
Ainda sobre a relação entre Acaso e Virginianos, na obra “Distraídos venceremos” Leminski poetou “O atraso pontual” (desconheço título mais virgo e zen):
Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
...
Bênçãos e desgraças vêm sempre no horário.
Leminski, como bom virginiano, conhecia o tempo de cada coisa; tempo de plantar, de colher. Tempo da bênção, da desgraça. Sem pressionar o relógio e confiante na exatidão da agenda celeste, aguardou as bênçãos que o fariam um dos poetas mais laureados dos tempos.
Milimetricamente distraído, venceu.
🌞♍
Pratique a zen distração. A Criação executa suas melhores obras durante o ócio.
Para a mui virginiana vó Belina,
com amor,
Pryscila Vieira.
@astrotoons__ é coluna de @prysciladas que estuda na @saturnalia_
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