UMA JORNADA. DUAS JORNADAS. A JORNADA ANTES DA JORNADA. AS JORNADAS QUE VIRÃO.
Chegamos ao fim dessa pequena aventura em dois meses – o tempo passou depressa, nem vimos! Encontrar-se com os Perpétuos, dentro e fora de si, é uma experiência por si só valiosa. Compartilhar essas impressões com você e ter seu feedback, caro leitor, foi algo para além do esperado.
Como todo processo de criação, percebo que, à medida em que eu mergulhava nos quadrinhos em busca dos referenciais para definir razoavelmente os domínios de cada Perpétuo, associando o processo com a minha experiência como cartomante, minha leitura mudava. Havia uma impressão inicial, mas a realidade dos fatos, se assim pudéssemos definir (estamos nos domínios do Sonhar, lembra?), se mostrou outra mais de uma vez. Mas é esse o “Efeito Saturnália”, percebido não só nesses textos, mas nos textos que diariamente percorrem essa página: A partir do mergulho consciente na bibliografia sobre determinado assunto – seja a própria Astrologia, ou o Tarô, sejam quadrinhos, música, literatura ou quaisquer temas que se apresentem e se entrecruzem –, a experiência pessoal de cada autor gera a alquimia perceptível em nossas leituras. Não basta saber; é preciso fazer saber. É preciso trazer à luz. Ser lucífero, no sentido estrito desta palavra.
O Corvo foi nosso companheiro de jornada. Com ele, como ele, percorremos os caminhos dos Perpétuos, adentramos seus domínios, reconhecemos suas características em sete textos mais um, e com este nove:
TEXTO ZERO. Prólogo [https://goo.gl/hhF2UV] TEXTO UM. Destino [https://goo.gl/jMyk7b] TEXTO DOIS. Desencarne [https://goo.gl/4KJgtG] TEXTO TRÊS. Devaneio [https://goo.gl/QjEb9K] TEXTO QUATRO. Destruição [https://goo.gl/aqE6L5] TEXTO CINCO. Desejo [https://goo.gl/65ytbJ] TEXTO SEIS. Desespero [https://goo.gl/Unk5sE] TEXTO SETE. Delirium [https://goo.gl/3Nu3jm]
Foram contemplados dezenove dos vinte e dois Arcanos Maiores do Tarô. Não houve, ipsis litteris, uma preocupação geométrica que deixasse apenas um Arcano de fora (Sete Perpétuos vezes três Arcanos para cada igual a vinte e um); a narrativa e os domínios de cada um dos Perpétuos regeu o processo. Assim, é possível perceber que os domínios de um pode resvalar, suave e quase imperceptivelmente nos domínios do outro, assim como existem domínios em que é melhor não se demorar muito.
Evidentemente, essa jornada não é uma, mas, no mínimo, duas. A minha, durante todo o processo de pesquisa e concepção do texto, e a sua, que lê esse texto agora. A que caminhos os Sem Fim levaram você a partir desse mirante inicial? Eu não sei (a menos que você me conte); eu só espero que tenha sido prazeroso, tão prazeroso quanto foi para mim, escrever sobre eles!
Muito – muito mesmo – foi deixado de lado. Toda escolha é uma perda, e foi necessário perder alguns detalhes, em parte pelas possibilidades que o espaço dispõe (uma coisa é escrever um livro, outra coisa muito diferente é escrever uma postagem para redes sociais - mea culpa), em parte porque grande parte do prazer é preencher as lacunas com as lembranças de nossas próprias leituras, assim como deixar vazios para aqueles que não tiveram ainda a oportunidade de ler Sandman em sua totalidade (mea laetitia).
Nesse sentido, é necessário que se leia, além das 75 edições que compõem a história principal, alguns spin-offs e o Prelúdio. Jornadas para além da jornada, nas quais Neil Gaiman fecha alguns espaços e abre novas janelas. É próprio dele, é parte do prazer em lê-lo, saber que ele constrói jardins, não castelos. Para aquele que constrói castelos, um dia seu trabalho estará concluso; para o jardineiro, sempre haverá trabalho, pois o ciclo não para. E, desde sua primeira publicação, Sandman não deixa de crescer e se espalhar por todo o mundo, para o deleite de seu jardineiro e nosso, que usufruímos deste jardim-labirinto.
Resta-me agradecer primeiramente ao João Acuio (oi, João!) pelo convite feito, pelo desafio proposto, pelo espaço cedido, pela amizade de sempre. E, evidentemente, a você, leitor, que vem acompanhando a série, comentando, compartilhando. Essa série só foi possível porque tive todo o apoio desde o começo, e os feedbacks mais generosos. Todo texto é um diálogo, e ouvir sua voz de volta nos comentários, nos compartilhamentos, fez toda a diferença.
Outros textos virão, evidentemente; seja sobre Sandman, cujos temas, como já disse, não foram nem de longe esgotados (reitero a natureza deliberada do ato: eu não falei de Daniel, por exemplo); sejam sobre Tarô e outros oráculos; seja sobre o cotidiano de todos nós que temos um pé no Outro Mundo (seja o Sonhar, o Limiar, o Labirinto ou até mesmo os intercaminhos, os descaminhos e encruzilhadas entre caminhos, que os Andantes entre nós sabem existir...).
No primeiro texto eu perguntei qual é o seu Perpétuo favorito, reconhecendo que isso fala muito sobre você, leitor. Ao fim dessa jornada, eu pergunto:
Afinal, você descobriu qual é o meu Perpétuo favorito?
Eu sou Emanuel J Santos.
Eu agradeço. Eu me despeço. Até breve.
A gente se vê.
P.s.: este texto foi publicado originalmente aqui: https://www.facebook.com/Saturnalia/photos/a.10150369632207293/10156363055577293/; a imagem é de autoria do Emanuel; o Corvo da Saturnália foi criado pelo Gabriel Breviglieri.
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